Hoje o dia estava muito
instável, com o céu coberto de nuvens e ameaçava chover.
Não podia ficar em casa, tinha que ser merecedor dos
calções de ciclista que ganhei no Dia do Pai. Saí
passava pouco das onze da manhã, disposto a ir até onde
fosse possível e com o “carro de apoio” disponível no
caso de começar a chover. O objectivo era Atenor e
Teixeira mas desconhecia completamente a estrada e as
dificuldades que iria encontrar.
Durante as últimas semanas
questionei alguns meus conhecidos sobre o melhor
percurso mas não me foi indicado nenhum que se
distinguisse. Optei por ir por Águas Vivas e Palaçoulo.
Se chovesse, ficaria por Aguas Vivas.
A Primavera já chegou e logo
em Cércio ouvi pela primeira vez o cuco e bandos de
pintaroxos deambulavam pelos terrenos que parecem
acordar de dois anos de sede.
O dia não estava muito
convidativo para a fotografia mas foi fazendo algumas
até chegar a Águas Vivas. Dei um passeio pelas ruas. A
aldeia é grande e quando um habitante me deu as boas
tardes, olhei as horas e parti rapidamente em direcção a
Palaçoulo. Não deu para parar. Quando perguntei a uma
senhora quantos quilómetros eram até Atenor a resposta
deixou-me preocupado. – Não sei mas são muitos. Na
realidade não são muitos mas não são nada fáceis.
Felizmente que o dia estava
fresco e lá fui avançando, pouco a pouco, até Atenor.
Não quis perder a oportunidade de ir a Teixeira mas
parecia-me tão distante… já via ali perto o castelo de
Algoso. O dia melhorou e aproveitei para comer o meu
“almoço”, em duas rodas, como os verdadeiros
profissionais.
Teixeira é pequeno. As ruas
estão esburacadas há cerca de um ano, por cauda obras
para o saneamento básico e possivelmente assim se vão
manter até novas eleições. A escola é grande e recente,
mas não funciona já há alguns anos. A igreja tem frescos
pintados na parede que são talvez a maior atracão de
Teixeira. Dei um passeio pela aldeia e fiquei
surpreendido com as infra-estruturas que encontrei: uma
boa sede da Associação, um campo de futebol, jardins e
tanques cobertos para lavar a roupa. Encontrei um
residente que procurou meter conversa. Foi-me dizendo
que há no lugar perto de 25 pessoas. Contou as suas
mágoas de idoso e falou bem da sua terra. Tive que
interromper a conversa, a estrada esperava-me.
À saída de Teixeira
acabou-se-me a segunda bateria da máquina digital o que
fez com que já não pudesse registar o resto do percurso.
Quando cheguei a Atenor dei
uma pequena volta pela aldeia e aproveitei para tomar um
café. A senhora que me atendeu alegrou-me: - Daqui a
Miranda é um “saltinho”, dantes ia-se lá a pé por um
caminho que passavam por Fonte Ladrão, Duas Igrejas e
Cércio. O salto (mais longo que o esperado) foi até
Sendim e depois, já com o horário apertado, parti em
direcção a Miranda. Cheguei às seis da tarde, muito
cansado e com muito, muito apetite.
Aníbal Gonçalves