Os meus passeios de
bicicleta já duas vezes passaram por Constantim. A
primeira vez foi no dia 15 de Outubro de 2005.
Depois de uma passagem
pelo Nazo fui até S. Martinho de Angueira e
regressei a Miranda passando por Cicouro e Contantim.
Foi muito cansativo, as minhas pernas não estavam
habituadas às pedaladas.
A segunda vez foi no dia
13 de Maio de 2006. Um dia luminoso, com a natureza
a explodir em flores espalhadas em mantos verdes, e
um céu muito azul, quase limpo num horizonte largo
como só na Nossa Senhora da Luz se avista.
A verdura e as flores
silvestres prenderam a minha atenção em todo o
percurso. Primeiro o azul do rosmaninho alternado
com as flores amarelas das giestas, depois mantos
brancos de compostas amarelas e brancas margaridas e
junto à estrada tufos de pequenas flores de um azul
profundo que nunca tinha visto.
Fiz um desvio para
visitar a parque de merendas recentemente sinalizado
junto à estrada. O espaço é amplo com uma grande
lagoa onde vi algumas aves aquáticas e um cágado.
Tem mesas, bancos e uma fonte. Um carvalho fornece a
sombra necessária para apetecer ficar por ali
ouvindo o silêncio e saboreando o ambiente onde tudo
é harmonioso.
A etapa seguinte foi o
cabeço da N.ª S.ª da Luz. Além do interesse pala
vista que se tem foi o meu primeiro passeio
internacional. Coloquei a câmara fotográfica sobre
uma rocha e fotografei-me a mim próprio em frente à
placa que assinala a entrada em Espanha.
Não pude deixar de
pensar em tempos idos. Imaginei o lugar cheio de
carabineiros vigiando os caminhos que se estendem
pela fronteira até perder de vista. Passaram pela
minha mente imagens d”A Sombra dos Abutres” de
Leonel Vieira. Quantos contrabandistas por aqui
cruzaram, quantos imigrantes por aqui saíram em
busca de algum dinheiro em França e na Alemanha? Os
locais de vigia ainda lá estão mas as fronteiras
erguem-se e caem com a vontade dos homens.
A festa no cabeço tinha
acontecido à poucos dias mas o local estava bastante
limpo, pelo menos na área portuguesa. Do lado
espanhol, tinham juntado o lixo e tinham-lhe chegado
o fogo. Claro que as latas e as garrafas de vidro
não arderam e lá estavam todas conspurcando todo o
hino à natureza que tinha visto até ali.
Desci até Constantim.
Estranhei um Posto de Informação Multimédia. Não
estava ligado. Bem gostava de ter experimentado, a
tecnologia exerce alguma força sobre mim!
Dei um “salto” até
Cicouro e voltei para continuar a descobrir
Constantim. Tive pena não poder entrar à igreja. A
igreja de Nossa Senhora da Assunção é uma igreja
muito antiga que foi alvo de várias intervenções ao
longo dos séculos. Junto dela está o Calvário.
Uma das coisas que se
pode admirar em Constantim é a quantidade e
variedade de fontes antigas, todas elas com uma
placa com o nome, Fonte do Canto, Fonte das
Hortinhas, Fonte do Mudo, Fonte Nova, etc. Não
admira, o Fresno começa aí o seu percurso.
É agradável passear
pelas ruas da aldeia. Deve ter sido uma grande
aldeia a julgar pelas construções muitas delas em
ruínas. Os habitantes que restam, não se deixam
abater. Na Associação Cultural e Recreativa de
Constantim encontrei um grupo razoável de pessoas,
coisa pouco frequente nestas aldeias. A sede é
espaçosa, agradável e bem situada.
Atravessei toda a aldeia
e encontrei um verde pasto junto à Fonte das
Hortinhas. Fotografei uma pequena capela, já fora da
aldeia e regressei ao aglomerado urbano.
Depois de mais unas
quantas voltas pelas ruas voltei à E.M. 542. Quando
me afastava reparei que a capela de N.ª S.ª das
Dores estava aberta. Duas mulheres limpavam e
arranjavam bonitos arranjos florais (vestígio da
festa da N.ª S.ª da Luz) em volta do altar. Com a
simpatia habitual, fizeram questão de me mostrar a
“sua” capela.
Empreendi o regresso a
Miranda. Em Ifanes ainda parei para fotografar a
enorme variedade de cores de lírios espalhados por
algumas ruas da aldeia. A luz já era pouca, estava
na hora de regressar a casa.
Aníbal Gonçalves